quarta-feira, 28 de novembro de 2007

2014. A copa do Brasil...

O último dia 30 entra para a história do futebol mundial. Cinqüenta e sete anos após ter sido sede da maior festa popular do mundo, o país de mais de cento e oitenta milhões de habitantes, cinco títulos mundiais, infra-estrutura precária, corrupção, subnutrição, seca, migração e de uma descrição política democrática, voltará á ser sede em 2014, desta que está sendo chamada a COPA da inclusão social, e do desenvolvimento sustentável. Com uma comitiva nunca vista antes na história da entidade máxima do futebol (FIFA), Josef Blatter presidente da entidade máxima do esporte, anunciou o país sede sobre aplausos e empolgações um tanto comedidas da comitiva que lá estava.
Após ser sede este ano dos jogos pan-americanos, competição de pouca expressão internacional e de baixo nível técnico, mas de gastos públicos grandiosos, o Brasil e não mais um município deve se preparar para receber uma COPA do Mundo de Futebol, com a qual os governos estaduais pretendem ganhar visibilidade, votos e porque não a confiança do povo para dirigir a máquina pública nacional. O Palácio do planalto e o ponto culminante de todos aqueles que diziam estar representando seus estados em Zurique, na Suíça.
A aparente desculpa de que a uma COPA do Mundo de Futebol trás investimento, estes, diga-se de passagem, públicos, sendo que todos os investimentos privados não deixarão de ter altos custos para a população, que se verá em meio a canteiros de obras permanentes até o início das competições, sem que haja uma avaliação prévia do impacto que tais mudanças provocariam em sociedades, costumes e finanças, que em grande parte só pagará a conta, e pouco terá com o que se beneficiar.
De certo temos até 2014, para que o país do futebol justifique sua insistência em deixar de ser o país do futuro, o caos público causado em grande parte por incompetência de gestão com gastos e investimentos terá de ser sanado, se não quisermos ser tachados novamente, de país do futuro, ou mesmo, a pior copa de todos os tempos. Torcida está que canadenses e norte-americanos deixaram claro, muito antes do anúncio oficial de que o país do futebol será a sede do maior evento da humanidade, isso virá a ocorrer nos próximos anos, sem ao menos ter o básico para toda uma nação. A dignidade. Está roubada por D. Pedro e a família real, quando por meio de uma expedição resolveu colocar os pés na terra rica em solo, povo, metais e arquitetura de aspectos grandiosos jamais recuperados.
Como no coliseu durante o império romano, onde homens julgados por seu ser supremo “O Imperador”, eram devorados por leões, lutavam entre si até a morte de um deles servindo de meio de diversão ao povo, este que convivia com a fome, a miséria, a desigualdade e o poder de influência limitado por um estado ditador, que impunha com base na força suas vontades e percepções. E com estes elementos históricos que devemos enxergar os estádios de futebol. Arenas onde homens se digladiam com o único objetivo de minimizar problemas aparentes, desta sociedade gigante pela própria natureza, não poucas vezes retratados como menores diante da necessidade, e espaço que tem os coliseus modernos, em um mundo cada vez menos preocupado com o coletivo.
A COPA de 50, como durante o império romano, serviu como pano de fundo para se esconder os problemas sociais que poderiam vir a voltar-se em uma revolução contra o Estado e seus comandantes. As características aparentes destes momentos históricos tem se reeditado de forma similar em competições como Olimpíadas, Copa do Mundo, jogos Pan-Americanos, entre outros eventos desta magnitude no mundo todo.
O que o presidente Lula e sua comitiva fez durante sua visita a sede da entidade máxima do futebol, foi realizar autopromoção de seus programas sociais, econômicos e políticos para o mundo, o que deve contribuir para que seu mandato acabe com índices de aprovação inquestionáveis, ou mesmo, como o grande revolucionário do século XXI. Nem o escritor Paulo Coelho, nem o baixinho Romário, nem Ricardo Teixeira, o grande nome desta festa que deveria ser sim a “bola”. Está serviu apenas de acessório, já que o grande nome tornou-se a política, os políticos e seu presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que ao tomar posse da palavra afirmou. “Vamos fazer uma COPA pra argentino nenhum por defeito”.
Mas de volta a realidade, o país se choca com o medo que atravessa paredes, os sonhos interrompidos, a falta de liberdade, as leis do estado paralelo. Passado os jogos realizados na cidade do Rio, a população voltou a sentir as dificuldades de se viver longe do estado de direito, corrompido pela desconstrução do estado gigante, para o estado minúsculo. A America Latina descrita por Ernesto Che Guevara, como a América maiúscula se vê em meio a uma revolução. Está silenciosa, que se transporta dos campos aos morros, sem que seja observada de forma contundente por este estado minúsculo.
A ebulição se faz sentir e transborda dos pontos mais baixos da pirâmide social brasileira, como nos anos de chumbo daquela que foi uma das mais duras repressões feitas no mundo. Porém, diante das desigualdades crescentes, da repressão cada vez mais dura, inconformidades e união trouxeram à tona a luta, a reivindicação e a fusão de classes sociais, de trabalhadores, revolucionários entre outros, que se uniram no verdadeiro Coliseu brasileiro dos anos de chumbo, do estádio de Vilas Euclides ao movimento pelas Diretas Já na Praça da Sé. Os gritos que ecoavam dos guetos, das reuniões em porões sujos e úmidos, a luta no campo.
Lutas que se reproduzem décadas depois no olhar triste da criança que chora a morte do pai, este que voltava do trabalho e teve seus sonhos interrompidos ao encarar, mesmo sem querer, uma bala perdida vinda do confronto entre os poderes paralelos deste estado sem leis. Realidade que pode estar a acontecer agora, longe de nossos olhos, longe das estatísticas aparentes apresentadas pelo estado minúsculo. Mas muito próxima da realidade. Realidade daqueles que se escondem atrás de carros blindados, segurança privada, grades, medos e descaso deste estado sem fronteiras, trincheiras, sem respostas a tudo aquilo que a sociedade vem se acostumando a ver. O Coliseu da eramoderna!

Um comentário:

Blog do Márcio disse...

Muito bom texto! Deveria atualizar mais vezes esse blog, certamente renderiam bons frutos.

Marcio.