domingo, 18 de novembro de 2007

"Fábrica de Marginais?"

Nunca a falta de oportunidade, e o descaso com as camadas menos favorecidas foi tão mal retratada. A falta de conhecimento, abrangência e aproximação com os problemas referentes a toda uma sociedade, fizeram do governador do estado do Rio de Janeiro, Sergio Cabral, um infeliz relator dos problemas de seu estado. Diante das balas perdidas, da guerra urbana diária, da policia mal remunerada, da falência do estado de direito, o governador de um dos estados de maior importância do país, se esqueceu dos últimos fatos de violência ocorrido “neste país de todos”, que vieram de moradores das regiões nobres do Brasil e de seu estado fluminense.
Declarando em entrevista concedida ao portal G1, da globo.com. “Sou favorável ao direito da mulher interromper uma gravidez indesejada. Sou cristão católico, más que visão é essa? Esses atrasos são muito graves. Não vejo a política discutir isso. Você pega o número de filhos na Lagoa, na Tijuca, no Méier e em Copacabana. É padrão sueco. Agora, pega na Rocinha, no Vidigal no Alemão. É padrão Zâmbia, Gabão. Isso é uma fabrica de produzir marginais”.
Sua infeliz declaração reproduziu o pensamento elitista carioca, das regiões que são em grande parte, financiadoras deste estado de emergência tão aclamado nas ruas por distintos senhores, senhoras, moradores das regiões nobres, da então ex-capital deste país de barreiras invisíveis. A divisão gigantesca entre aqueles que têm seus direitos atendidos pelo estado, por terem como cobrá-los, e tantos outros que tem sido furtados a séculos do mínimo necessário para atender suas necessidades básicas acabou por criar esse abismo, aparentemente intransponível, retratado em filmes, documentários e relatos pouco ou nada criativos.
Os gritos que ecoam em meio ás regiões de nórdicos cariocas, são os mesmos de outras tantas regiões nobres em toda America Latina, que como vikings declarando guerra aos já tão sofridos povos explorados, por seus reis e rainhas, vêem-se no direito de condenar todos aqueles que se viram furtados de seus direitos básicos, á sua morte antecipada. Já que outras medidas segundo os mesmos criariam retrocessos abomináveis a economia, a política a seus tão defendidos direitos que começam a se perder em meio às balas, bombas e assaltos, cada dia mais recorrentes em seus luxuosos bairros, prédio e condomínios fechados.
Há de se pensar sim no direito da mulher realizar intervenção sobre suas gestações, sempre que a mesma acreditar ser o melhor para si e para o feto que carrega. Mas há inicialmente a necessidade de se educar, criar oportunidades, competir com o estado paralelo, e desarticular o tráfico de entorpecentes financiado pelos mesmos desbravadores de terras estranhas, que gritam nas ruas pelo fim das balas que atingem seus vidros blindados, seus carros reforçados ou suas janelas, traduzidos em uma guerra civil.
Não serão ONG´s, doações, marchas e tantas outras tentativas inúteis, diga-se de passagem, que trarão de volta á velha e boa boemia dos bairros cariocas, mas o direito de todos, de compartilhar dos mesmos. A migração forçada, esta criada pelas elites que se esqueceram das terras áridas e da seca que castiga o nordeste brasileiro, fizeram dos mesmos as primeiras vitimas do crescimento desordenado, dos já tão sofridos homens e mulheres muito a frente do Brasil português, já que os mesmos eram colônia holandesa, desenvolvida, de terra fértil e produção vasta.
Hoje retratamos o Brasil das diferenças, como se este não fosse o grande problema e o produtor das balas e bombas que começam a ecoar em bairros como a lagoa. O abismo criado entre todos aqueles que têm direitos adquiridos, e aqueles que lutam para ser vistos aumentam a cada dia, e criam os fatos que vemos em manchetes nas capas de jornais, revistas e veículos eletrônicos. O que não podemos e culpar as taxas de natalidade e fertilidade feminina como se, os financiadores e bandidos produzidos e nascidos nas regiões como a Lagoa, Tijuca e Meiér fossem menos preocupantes para toda uma sociedade!

Um comentário:

Eduardo disse...

Exelênte texto!

Como disse o geógrafo Milton Santos, um dos maiores intelectuais do século XX, "Onde metade da população dorme com fome, a outra metade não dorme, com medo da metade que passam fome".

Já que não existe nenhuma intenção política em diminuir a pobreza através de políticas públicas, o governador do Rio, e não só ele, imagina que o aborto seria uma boa solução. Se os pobres não tiverem filhos, a pobreza acabaria naturalmente, e sem a necessidade de distribuir renda. É interessante que o aborto, para César Maia, não é visto como uma questão de saúde pública, mas como uma solução para diminuir a criminalidade.

Será que ainda é possível acreditar em políticas sérias de promoção social e de valorização do ser humano, seja ele morador do Leblon ou da Rocinha, elegendo governadores que pensam assim?