quarta-feira, 28 de novembro de 2007

2014. A copa do Brasil...

O último dia 30 entra para a história do futebol mundial. Cinqüenta e sete anos após ter sido sede da maior festa popular do mundo, o país de mais de cento e oitenta milhões de habitantes, cinco títulos mundiais, infra-estrutura precária, corrupção, subnutrição, seca, migração e de uma descrição política democrática, voltará á ser sede em 2014, desta que está sendo chamada a COPA da inclusão social, e do desenvolvimento sustentável. Com uma comitiva nunca vista antes na história da entidade máxima do futebol (FIFA), Josef Blatter presidente da entidade máxima do esporte, anunciou o país sede sobre aplausos e empolgações um tanto comedidas da comitiva que lá estava.
Após ser sede este ano dos jogos pan-americanos, competição de pouca expressão internacional e de baixo nível técnico, mas de gastos públicos grandiosos, o Brasil e não mais um município deve se preparar para receber uma COPA do Mundo de Futebol, com a qual os governos estaduais pretendem ganhar visibilidade, votos e porque não a confiança do povo para dirigir a máquina pública nacional. O Palácio do planalto e o ponto culminante de todos aqueles que diziam estar representando seus estados em Zurique, na Suíça.
A aparente desculpa de que a uma COPA do Mundo de Futebol trás investimento, estes, diga-se de passagem, públicos, sendo que todos os investimentos privados não deixarão de ter altos custos para a população, que se verá em meio a canteiros de obras permanentes até o início das competições, sem que haja uma avaliação prévia do impacto que tais mudanças provocariam em sociedades, costumes e finanças, que em grande parte só pagará a conta, e pouco terá com o que se beneficiar.
De certo temos até 2014, para que o país do futebol justifique sua insistência em deixar de ser o país do futuro, o caos público causado em grande parte por incompetência de gestão com gastos e investimentos terá de ser sanado, se não quisermos ser tachados novamente, de país do futuro, ou mesmo, a pior copa de todos os tempos. Torcida está que canadenses e norte-americanos deixaram claro, muito antes do anúncio oficial de que o país do futebol será a sede do maior evento da humanidade, isso virá a ocorrer nos próximos anos, sem ao menos ter o básico para toda uma nação. A dignidade. Está roubada por D. Pedro e a família real, quando por meio de uma expedição resolveu colocar os pés na terra rica em solo, povo, metais e arquitetura de aspectos grandiosos jamais recuperados.
Como no coliseu durante o império romano, onde homens julgados por seu ser supremo “O Imperador”, eram devorados por leões, lutavam entre si até a morte de um deles servindo de meio de diversão ao povo, este que convivia com a fome, a miséria, a desigualdade e o poder de influência limitado por um estado ditador, que impunha com base na força suas vontades e percepções. E com estes elementos históricos que devemos enxergar os estádios de futebol. Arenas onde homens se digladiam com o único objetivo de minimizar problemas aparentes, desta sociedade gigante pela própria natureza, não poucas vezes retratados como menores diante da necessidade, e espaço que tem os coliseus modernos, em um mundo cada vez menos preocupado com o coletivo.
A COPA de 50, como durante o império romano, serviu como pano de fundo para se esconder os problemas sociais que poderiam vir a voltar-se em uma revolução contra o Estado e seus comandantes. As características aparentes destes momentos históricos tem se reeditado de forma similar em competições como Olimpíadas, Copa do Mundo, jogos Pan-Americanos, entre outros eventos desta magnitude no mundo todo.
O que o presidente Lula e sua comitiva fez durante sua visita a sede da entidade máxima do futebol, foi realizar autopromoção de seus programas sociais, econômicos e políticos para o mundo, o que deve contribuir para que seu mandato acabe com índices de aprovação inquestionáveis, ou mesmo, como o grande revolucionário do século XXI. Nem o escritor Paulo Coelho, nem o baixinho Romário, nem Ricardo Teixeira, o grande nome desta festa que deveria ser sim a “bola”. Está serviu apenas de acessório, já que o grande nome tornou-se a política, os políticos e seu presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que ao tomar posse da palavra afirmou. “Vamos fazer uma COPA pra argentino nenhum por defeito”.
Mas de volta a realidade, o país se choca com o medo que atravessa paredes, os sonhos interrompidos, a falta de liberdade, as leis do estado paralelo. Passado os jogos realizados na cidade do Rio, a população voltou a sentir as dificuldades de se viver longe do estado de direito, corrompido pela desconstrução do estado gigante, para o estado minúsculo. A America Latina descrita por Ernesto Che Guevara, como a América maiúscula se vê em meio a uma revolução. Está silenciosa, que se transporta dos campos aos morros, sem que seja observada de forma contundente por este estado minúsculo.
A ebulição se faz sentir e transborda dos pontos mais baixos da pirâmide social brasileira, como nos anos de chumbo daquela que foi uma das mais duras repressões feitas no mundo. Porém, diante das desigualdades crescentes, da repressão cada vez mais dura, inconformidades e união trouxeram à tona a luta, a reivindicação e a fusão de classes sociais, de trabalhadores, revolucionários entre outros, que se uniram no verdadeiro Coliseu brasileiro dos anos de chumbo, do estádio de Vilas Euclides ao movimento pelas Diretas Já na Praça da Sé. Os gritos que ecoavam dos guetos, das reuniões em porões sujos e úmidos, a luta no campo.
Lutas que se reproduzem décadas depois no olhar triste da criança que chora a morte do pai, este que voltava do trabalho e teve seus sonhos interrompidos ao encarar, mesmo sem querer, uma bala perdida vinda do confronto entre os poderes paralelos deste estado sem leis. Realidade que pode estar a acontecer agora, longe de nossos olhos, longe das estatísticas aparentes apresentadas pelo estado minúsculo. Mas muito próxima da realidade. Realidade daqueles que se escondem atrás de carros blindados, segurança privada, grades, medos e descaso deste estado sem fronteiras, trincheiras, sem respostas a tudo aquilo que a sociedade vem se acostumando a ver. O Coliseu da eramoderna!

domingo, 18 de novembro de 2007

"Fábrica de Marginais?"

Nunca a falta de oportunidade, e o descaso com as camadas menos favorecidas foi tão mal retratada. A falta de conhecimento, abrangência e aproximação com os problemas referentes a toda uma sociedade, fizeram do governador do estado do Rio de Janeiro, Sergio Cabral, um infeliz relator dos problemas de seu estado. Diante das balas perdidas, da guerra urbana diária, da policia mal remunerada, da falência do estado de direito, o governador de um dos estados de maior importância do país, se esqueceu dos últimos fatos de violência ocorrido “neste país de todos”, que vieram de moradores das regiões nobres do Brasil e de seu estado fluminense.
Declarando em entrevista concedida ao portal G1, da globo.com. “Sou favorável ao direito da mulher interromper uma gravidez indesejada. Sou cristão católico, más que visão é essa? Esses atrasos são muito graves. Não vejo a política discutir isso. Você pega o número de filhos na Lagoa, na Tijuca, no Méier e em Copacabana. É padrão sueco. Agora, pega na Rocinha, no Vidigal no Alemão. É padrão Zâmbia, Gabão. Isso é uma fabrica de produzir marginais”.
Sua infeliz declaração reproduziu o pensamento elitista carioca, das regiões que são em grande parte, financiadoras deste estado de emergência tão aclamado nas ruas por distintos senhores, senhoras, moradores das regiões nobres, da então ex-capital deste país de barreiras invisíveis. A divisão gigantesca entre aqueles que têm seus direitos atendidos pelo estado, por terem como cobrá-los, e tantos outros que tem sido furtados a séculos do mínimo necessário para atender suas necessidades básicas acabou por criar esse abismo, aparentemente intransponível, retratado em filmes, documentários e relatos pouco ou nada criativos.
Os gritos que ecoam em meio ás regiões de nórdicos cariocas, são os mesmos de outras tantas regiões nobres em toda America Latina, que como vikings declarando guerra aos já tão sofridos povos explorados, por seus reis e rainhas, vêem-se no direito de condenar todos aqueles que se viram furtados de seus direitos básicos, á sua morte antecipada. Já que outras medidas segundo os mesmos criariam retrocessos abomináveis a economia, a política a seus tão defendidos direitos que começam a se perder em meio às balas, bombas e assaltos, cada dia mais recorrentes em seus luxuosos bairros, prédio e condomínios fechados.
Há de se pensar sim no direito da mulher realizar intervenção sobre suas gestações, sempre que a mesma acreditar ser o melhor para si e para o feto que carrega. Mas há inicialmente a necessidade de se educar, criar oportunidades, competir com o estado paralelo, e desarticular o tráfico de entorpecentes financiado pelos mesmos desbravadores de terras estranhas, que gritam nas ruas pelo fim das balas que atingem seus vidros blindados, seus carros reforçados ou suas janelas, traduzidos em uma guerra civil.
Não serão ONG´s, doações, marchas e tantas outras tentativas inúteis, diga-se de passagem, que trarão de volta á velha e boa boemia dos bairros cariocas, mas o direito de todos, de compartilhar dos mesmos. A migração forçada, esta criada pelas elites que se esqueceram das terras áridas e da seca que castiga o nordeste brasileiro, fizeram dos mesmos as primeiras vitimas do crescimento desordenado, dos já tão sofridos homens e mulheres muito a frente do Brasil português, já que os mesmos eram colônia holandesa, desenvolvida, de terra fértil e produção vasta.
Hoje retratamos o Brasil das diferenças, como se este não fosse o grande problema e o produtor das balas e bombas que começam a ecoar em bairros como a lagoa. O abismo criado entre todos aqueles que têm direitos adquiridos, e aqueles que lutam para ser vistos aumentam a cada dia, e criam os fatos que vemos em manchetes nas capas de jornais, revistas e veículos eletrônicos. O que não podemos e culpar as taxas de natalidade e fertilidade feminina como se, os financiadores e bandidos produzidos e nascidos nas regiões como a Lagoa, Tijuca e Meiér fossem menos preocupantes para toda uma sociedade!

Como falar de CHE?


Homem, mito, revolucionário, revoltado, porco, excêntrico, Deus ou diabo? Assim, com estes adjetivos muitos dizem poder definir, aquele homem barbudo, de olhar forte, expressão marcante, charuto a boca. Para tantos outros, louco por suas viagens excêntricas, sem paradeiro, seus amores de parada, suas lutas, sua ideologia. Ideologia esta, que o fez viajar por uma America desconhecida, que intitulou de “A AMERICA maiúscula”, e o fez morrer em batalha por uma que acreditava ser possível. AMERICA da igualdade, do capital socializado, AMERICA da diversidade, de rostos, falas, dialetos e sonhos por dias melhores.
Quando vivo, contrariou as barreiras, derrubou fronteiras, lutou contra seu maior inimigo. A desigualdade, retratada em suas aventuras. Sonhou, descreveu o mundo pelo olhar daqueles que pouco tinha, retratou diferenças, assumiu uma bandeira. A conquista do poder em 1959 em Cuba á sua morte em 1967 ficam marcadas por sua mudança ideológica em relação à forma de tratar, manter e olhar o poder, e a revolução da antiga URSS (União das Republicas Socialistas Soviéticas), que em seus pensamentos transcritos em cartas apresenta questionamentos sobre a forma, da qual se deve conduzir o povo revolucionário a tudo a que os mesmos têm direito.
Aos quarenta anos de sua morte, continuamos mesmo que inconscientemente a olhar para seus feitos, lutas e objetivos. Retratamos sua imagem, evocamos seus pensamentos, discutimos as formas, as atitudes, seu querer e seu poder. Morto, aquele homem impiedoso, de olhar marcante, porco e um tanto quanto narcisista, mais parecia um anjo. Este igual a tantos outros que o cercavam admirados, loucos para ver o então, “El Diablo”, descrito pelo exercito Boliviano, que havia capturado e morto, aquele homem que vinha em nome do diabo causar a morte e o sofrimento nas palavras do exercito que se propagavam, pelos campos, pelos montes, em meio aquele povo miserável, de necessidades estampadas sobre seus olhares sofridos e seus corpos marcados pelas injustiças ali cometidas.
Suas experiências tomaram o mundo de um grito. Que mundo temos? Que mundo queremos? Seus feitos são debatidos, sua imagem adorada, seguidores não o faltam, que diante da Praça de Maio, ambiente de lutas e conquistas dos argentinos, e sua terra natal dividem espaço com as Mães da Praça de Maio, de lutas constantes por justiça. Comparado algumas vezes no Brasil a Antonio Conselheiro, homem de fibra destacada, em meio a seu rebanho destoando com palavras fortes e de uma liderança só vista na luta de Guevara pela igualdade entre os povos da AMERICA.
Marquixista, profundo estudioso, médico, cujo apelido conquistado ainda no colégio, dado por colegas, tratava como marca, aquela abreviação que mais tarde se tornaria símbolo da luta de classe por igualdade. “CHE”, assim gostava de ser chamado o homem independente, revolucionário, culto, apaixonado por seus ideais e por sua família. Por sua avó, deixou de lado o desejo de ser engenheiro. Asmático, especializou-se em doenças respiratórias, viajou o mundo, trocou experiências, dividiu uma motocicleta com seu amigo Alberto Granada, dividiu uma revolução, sonhos e esperanças, com seus companheiros, amigos e com um povo, distancio-se de sua família, e de seus sonhos particulares por seu ideal. Viveu intensamente, riu, chorou. Morto seu semblante sereno chocou aquela população, simples e necessitada.
Seus sonhos de revolucionário, ainda se encontram vivos entre estudiosos, historiadores, socialistas, sonhadores. Como descrever as aventuras e conquistas de um homem debatido, adorado, odiado, revolucionário, golpista. Como descrever sua AMERICA maiúscula, seus sonhos, como imaginar o Che Guevara e suas aventuras nos dias atuais? Como retratar seus pensamentos diante daquilo que vivenciamos nos dias atuais? Na era da globalização, do capital neoliberal, da competição desmedida entre o homem e sua semelhança, como retratar o comunista, revolucionário, dono de uma extensa biografia? Talvez o chamando apenas de CHE!

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Como definir o Fotojornalismo?


O fotojonalismo pode ser definido como a prática do jornalismo, em substituição, ou mesmo, complemento fundamental a linguagem verbal. Sua arte trabalha dentro do aspecto do impacto para informar, sendo que, não poucas vezes vamos traduzir a noticia com base na imagem retratada pelo jornalista ou fotografo que busca informação em seu olhar critico e criterioso para com a imagem-informação traduzida no ambiente inserido.
Já durante os reinados, grandes guerras e viagens feitas ao redor do mundo em busca de riquezas, o homem utilizava-se de imagens. Estas feitas com base em pinturas, que serviam para transmitir informação sobre fatos ocorridos, cartas de navegação, não poucas vezes de forma distorcida. O relato fotográfico torna-se importantíssimo dentro do jornalismo moderno do Século XX, e para a sociedade em geral. Aprende-se que com ele pode-se dar vida, e transformar a visão do leitor a partir do ocorrido, transmitindo-lhe, sentimentos que muitas vezes não se teria com relatos ou discursos, mas que são facilmente propagados com a transmissão de imagens a partir de uma lente.
Política, economia, cidade, estado, país, esporte, etc..., tudo se transforma em informação a partir do olhar da lente que amplia a realidade a ser traduzida, talvez aí esteja a explicação para o fenômeno que é a TV. Chamar a atenção para o fato impresso dentro daquele quadro, não poucas vezes com grande destaque dentro da informação inserida em reportagens, anúncios, matérias e exposições.

“Nos anos 60 e início dos 70, a simples divulgação de fotografias teve o poder de mudar o curso da história. Em contraste com essa época de ouro, o jornalismo visual contemporâneo inunda o mundo com cartões-postais”. Edgar Roskis. (I)

A luta dentro de movimentos sociais sempre formou grandes nomes que, ora ou outra, vieram a refletir o momento em que vivíamos, de diversas formas. Um brasileiro merece destaque dentro deste jornalismo que informa com imagens, sem que muitas vezes seja necessária sua tradução em palavras. Sebastião Salgado é seu nome.
Nome conhecido dentro do meio de retratos de imagem / realidade foi traduzido da seguinte forma. Brasileiro de nascimento, vindo de classe média, formou-se em economia e trabalhou no Ministério da Fazenda. Deixou o país em 1969, ano em que foi para Paris (França), em fuga de seu país recém ingressado em uma violenta repressão ditatorial traçada pelos militares, onde, era inimigo do estado por ter participado do movimento estudantil brasileiro contra a ditadura militar e sua repressão, continuou a desenvolver sua carreira em economia fazendo Doutorado na França, onde hoje é considerado ícone da fotografia realidade dos tempos modernos.
1971, e por meio de sua mulher (Léila Wanick) que Sebastião Salgado, descobre a arte da fotografia, utilizando-se da máquina de Léila recém comprada para desenvolver seu trabalho em arquitetura. Empregado na Organização Internacional do Café, baseada em Londres, iniciou em suas viagens ao continente Africano onde realizou um trabalho fotográfico sobre a realidade, enquanto desenvolvia sua pesquisa sobre diversificação de plantações da arrubiácea. Aprendendo o valor da arte diante da ciência.

“Quando voltei a Londres, as fotos me deram dez vezes mais prazer que os relatórios econômicos que tinha de escrever.” Sebastião Salgado.

Jornalista, assim pode ser definido por seu olhar e reprodução dos fatos ocorridos dentro do mundo de guerras, das quais transmitiu por sua lente nem tão distantes das marcas deixadas pelos conflitos de Angola, Saara Espanhol, Israelitas aprisionados em Entebe, incêndios de poços de petróleo no Kuwait e a tentativa de assassinato de Ronald Reagan, entre outros tantos que ainda fotografa e fotografará.
Mas é a partir de seus projetos documentais, que Sebastião Salgado transmite sua forma de ver o mundo em que vivemos. Da fome ao migrante, da desconstrução causada pela guerra, aos
traços de sofrimento transmitidos no olhar de quem foge da morte. Afirmando que sempre tem sido influenciado em seus trabalhos pela sua forma latino-americana de ver o mundo e seus retalhos.

“Afinal você fotografa com tudo o que você é. Venho de um país subdesenvolvido onde os problemas sociais são muito intensos. E assim torna-se inevitável que as minhas fotos reflitam isso... creio que exista uma forma latino-americana de se ver o mundo. É algo que não se pode ensinar, por que simplesmente faz parte de você.” Sebastião Salgado.

O homem que traduz o mundo de uma forma particular de vê-lo, e que define esta forma como um olhar latino-americano, de enxergar a desigualdade e a realidade dos fatos, começa a partir de 1977 a retratar a América Latina. Seu primeiro trabalho sobre á realidade Latino-Americano de ser, foi transformado em livro com o título. “Other Américas” (Outras Américas), impresso simultaneamente em inglês, francês e espanhol, em 1986.
A descrição da ‘Fome’ que com tristeza observará no semi-árido nordestino, o remeteu ao passado. Onde decide voltar a fotografar a fome do Sahel Africano onde havia iniciado sua extensa carreira e onde colaborou com o grupo francês Médicos sem fronteiras, do qual lhe rendeu indicação e prêmios de diversos órgãos jornalísticos ou não.
Em seu olhar destaca-se a ralação de tudo aquilo que o mundo deixa de enxergar, para traduzir em números, que serão esquecidos em gavetas empoeiradas, ou estudo de sociólogos e filósofos que serão aplaudidos e tão somente isso. Suas imagens percorrem o subconsciente e dão sentimento aos fatos mais inusitados, transformando tristeza e dor em arte. Arte que faz com que um simples afegão se torne protagonista da desconstrução de todo um país, que faz de uma mãe alimentando seu filho, uma cena emocionante e triste diante da miséria vivida.
A realidade tem formas de ser transmitida, porém seus relatos fotográficos transformados em imagens preto e branco de sentimento aguçado, olhar terno, visão da realidade transformadas em informação, lhe dão a passagem da simples imagem, para o trabalho realidade. Da luta armada aos sem terra, sempre com um olhar aproximado, contrario a ética jornalística que manda se pautar pelo distanciamento de fontes e fatos, passando apenas como mero observador. Sebastião Salgado contraria está realidade, mostrando-se, inserido dentro do contexto sem que o mesmo se transforme por sua presença ou de sua câmera, transmitindo a realidade dos fatos sobre seu olhar.
Sua aproximação torna seu trabalho vivo e reflexivo. Ponto fundamental dentro da descrição da realidade pela fotografia, suas imagens viraram alvo de estudo e pesquisas, pois a descrição de ambientes e fatos ocorre diante de seu olhar aguçado, que certa vez descreveu a luz do ambiente como objeto fundamental para seu trabalho, já que nascido no vale do rio doce sua retina necessitava de luz para ter um olhar sobre os fatos. “Foto e sensibilidade da luz”. disse Sebastião Salgado certa vez.
Da guerra suja dos militares, surgiram grandes pensadores, assim como, dos grandes fatos que mudaram o mundo surgiram lideranças, políticos, pensadores e músicos. Aquele que poderia até hoje ser um burocrata dentro de nosso incipiente e vasto ambiente chamado estado, hoje é o homem que traduz em imagens a realidade do ser humano para com seu semelhante, suas dificuldades e realizações, da desconstrução á fome retratada em imagens que chocam e traduzem a dor e o sofrimento de toda uma nação. Ele pode ser chamado de Gênio, ou simplesmente Sebastião Salgado!

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

PODER

Poder, palavra vinda do latim ‘potere’, que se define como direito de deliberar, agir, mandar, ou mesmo, exercer autoridade sobre os demais comandados. A sociologia o define como a habilidade de impor a sua vontade sobre os outros, mesmo se resistirem de alguma maneira.
12 de setembro de 2007, Brasília. O salão que separa o plenário da imprensa ávida por informações está com vidros fume e seguranças armados. O dia é de decisão sobre á casacão do então presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Ex-homem forte da tropa de choque do governo Collor, enfrenta a opinião pública, imprensa e Senadores que parecem reféns da cadeira que fica acima de suas cabeças de onde o então réu de processo ético se defende.
O poder político, quando reconhecido como legítimo e sancionado como executor da ordem estabelecida, coincide com a autoridade, mas há poder político distinto deste, e que até se opõe, como acontece na revolução ou nas ditaduras. A relação de partidos, sociedade, parlamentares e imprensa tem se tornado uma relação de promiscuidade e compra de apoio. O discurso ideologico apresentado por muitos e contrastante, quando este visto do alto de sua condição fisica diante da sociedade. O processo político pós-redemocratização (1985) pode ser definido como ato, ou capacidade de impor algo sem alternativa para a desobediência dos meros mortais, sua excelência ‘O Eleitor’.
A concessão deste ‘PODER’, chamado de mandato parece não ter relação com o que pensa, ou mesmo, deixa de pensar a sociedade organizada. Absurdo diz todos os dias Arnaldo Jabor. O assistencialismo tão criticado pela oposição, relatado não poucas vezes nas páginas dos cadernos de politica, foi moeda de troca no sertão nordestino e hoje serve como moeda de apoio politico no congresso e senado, desta vez sem o cabresto de ex-homens fortes da ditadura militar que se resguardam embaixo do guarda-chuva de partidos politicos como PMDB e Democratas (DEM).
A vitoria de Calheiros no plenario do Senado, fez com que a sociedade voltasse á discutir seu poder de influência junto a partidos, sociedade organizada, politicos e mídia. Quem é quem dentro deste jogo sujo do poder politico? A definição poderia vir dos Gregos, ou então dos Barbaros, onde a sociedade tinha influência limitada sobre as decisões dos Deuses, mas nunca da “Democracia” que acreditamos fazer parte. A sociedade aguarda anciosa os resultados desta desastrosa forma de se definir poder num país chamado Brasilia!
Aos sociologos, filosofos, antropologos, historiadores e psicologos resta encontrar uma definição para a sociedade que vivemos, pois, enquanto discutimos a definição da palavra poder, somos vitimas daquele poder que se formou paralelamente ao descaso social que se dá na janela ao lado do Planalto.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

De goleada!

Quinta-feira, 27 de setembro de 2008.
As eleições marcadas para 28 de outubro á presidência Argentina, e suas províncias servirão como uma aula de democracia e percepção da história. Parentes de três vitimas da “Guerra Suja” dos militares argentinos entraram com o pedido de impugnação na justiça eleitoral do candidato a Província de Buenos Aires, Luis Patti. Ex-delegado de policia e torturador durante o período de sítio que viveu o país (1966-1983), acusado de ‘idoneidade moral’. Segundo acusação feita também por diversas ONG(s), e pelas Mães da Praça de Maio, conhecidas pela luta continua para saber onde estão seus filhos, militantes que lutavam contra os desmandos traçados pelos militares no país e que ocupam a anos a praça de maio na capital Federal a fim de saber o que ocorreu com eles.
Seja qual for a decisão da justiça eleitoral Argentina, o povo por meio da sociedade organizada acaba de dar uma aula de democracia e bom senso ao mundo, que diante das imagens de tortura, medo e repressão transmitida via Internet contra monges e civis em Mianmá simplesmente calaram-se. A ONU (Organização das Nações Unidas) por meio de seu conselho de Segurança aprovaram apenas um desagravo, limitando-se a dizer que a chacina iniciada deveria parar.
Mesmo que eventualmente Patti venha a ter direito de pleitear a vaga de governador da capital Porteña, não deve ser eleito. Sua derrota significaria a exclusão total de qualquer possibilidade dos militares ou governantes retornarem há uma triste época que destruiu o país, economicamente, politicamente e socialmente durante os 17 anos de seu regime, dos quais suas conseqüências são sentidas até hoje no país de Perón.
Primeiro de outubro de 2008. Senado e congresso parados, nada funciona com a desculpa que há a necessidade de se consultar ás bases, e mostrar o que esta se fazendo no Planalto central. Entre os ocupantes das cadeiras delineadas como o “Poder que emana do povo, em favor do povo”, estão ex-homens fortes da ditadura militar brasileira (1964-1984), que perdurou por 20 anos. E voltaram a mostrar força no senado durante absolvição do Senador Renan Calheiros (PMDB-AL).
Em uma clara sobreposição do pensamento do ‘POVO’, a absolvição do então presidente do senado federal Renan Calheiros soa como um retrocesso dentro do processo político brasileiro. Em meio a um congresso mergulhado na lama e um senado lotado por senhores eleitos por seus currais eleitorais, como em um clube de amigos onde todos trocam acusações, mas nunca as colocam a prova, a votação para cassação daquele que deveria ser o exemplo da casa (Senado), se faz secreta, com a desculpa de que existiria a necessidade de se fazer valer a decisão de colegas do Senado. Pois caso fosse aberto haveria interferência no seu resultado.
Mianmá país Asiatico, limitado a norte e nordeste pela China, acaba por refletir de certa forma, e guardada as devidas proporções, o estado e todo o descaso com que os políticos olham a seus PATRÕES. As chacinas realizadas diariamente nos grandes centros brasileiros, e as mortes na luta pela terra e direitos que deveriam estar a disposição da sociedade refletem como em um espelho, o ‘Poder’ as ‘Diretrizes’ e a 'Forma' que este é constituído. Diante de um estado intitulado democrático, temos o desprazer de ainda conviver com o passado presente na abordagem, e execução por parte de policiais militares e bandidos desprovidos de cultura ou oportunidades.
No país, que quem fica na prisão é pobre, e quem paga impostos e intitulado povão, o poder, palavra intitulada como capacidade ou possibilidade de agir ou mesmo produzir efeitos podendo estes produzidos por pessoas / indivíduos, ou mesmo grupos sociais dos quais mudam algo com base em pressão ou na forma de te-lo em suas mãos, ouve-se ainda como nos tempos dos generais, ‘você sabe com quem está falando’. Frase que nós mostra o quanto evoluído estamos em ralação ao passado recente, onde o estado e ditatorial e o regime de exceção. Mianmá servil para nós mostrar o quanto temos a caminhar antes de nós intitularmos, país democrático. E não será com base em eleições livres que seremos detentores deste celebre título, dado apenas a países onde a desigualdade social é noticia de terceiro mundo, mas sim a hora que tomarmos como exemplo os monges de Mianmá, e nossos vizinhos Porteños que lutam por um estado democrático e justo, mesmo que este seja produzido com base nos panelaços, realizados durante a crise financeira que assolou o país, ou tomando como base sua legislação produzida também pelos mesmos donos daqueles que intitulam seus cargos poder supremo da nação de todos.

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

O ruido paralelo que a elite carioca começa a descobrir

Quinta – feira, 19 de setembro de 2007. São 22 horas, o até então encontro de “marginais” retratados nas mentes elitistas da classe média carioca está acontecendo em algum lugar do morro. Nada de novo se o principal fator de desagravo no barracão onde Tati Quebra Barraco se apresenta não se encontrasse uma elite ávida pelo novo som que desceu o morro e invadiu as praias, bares e iates para tristeza da conservadora elite da antiga capital do Brasil.
O novo som contagiante sai do imaginário critico, e invade as ruas, do Leblon há Lapa. E como se o berço da boemia nunca tivesse existido. Esse é o retrato feito pelo olhar criterioso de Denise Garcia. A diretora do documentário “Sou feia, mas to na moda”, que traz a voz expoente da cultura de rua, não poucas vezes taxadas de vulgar ou de baixa qualidade, mostrando o outro lado do morro carioca.
A falta de uma conexão com o morro, sempre atrelado ao que não presta na cidade maravilhosa, tantas vezes cantado nas vozes dos poetas, ou na Sapucaí que já distante da comunidade, abre espaço para se criar um poder paralelo. Poder que desceu o morro muito antes da arte e do protesto não poucas vezes apresentados nas letras de rap(s), Funk(s) e dos poemas não menos importantes do também carioca Chico Buarque de Holanda, letras que poucas vezes sobem o morro, mas são sentidas ao caminhar na Orla ou na castigada e poluída Lagoa Rodrigo de Freitas.
Sobre o rico olhar dos barracões do samba, agora já longe de seu povo, o poder paralelo se sobressai sobre o Estado, que de tão pequeno hoje nem mais se faz presente. Mas o estado militar chega rápido, sobre a instituição das chacinas, das guerras do tráfico, da polícia militar ou do exercito, avesso aos direitos humanos.
A voz que ecoa do bom documentário de Denise, deveria fazer com que os “burrocatras do estado elefante”, repensassem suas atitudes e seus meios para chegar ao já tão sofrido povo, excluído de direitos e meios. Cabral terá um longo trabalho para retratar o estado desorientado que se proliferou nos becos e guetos do morro, que fazem de crianças soldados do trafico, e de meninas, mulheres usadas nós bailes como isca para aliciamento e viciamento na eterna guerra do trafico com o estado.
Enquanto nada ocorre, o baile fank ecoa no morro e vai continuar a ocupar uma grande faixa da maravilhosa cidade do medo. A linha vermelha já cheia de sangue e os morros marcados de tiros. Longe do planalto central onde o clube de amigos absolve Renan, e nada sentem, pois os tiros que abalam os barracos e as mortes ocorridas nos morros e na cidade estão longe de sua realidade.
Este país se chama Brasil!